domingo, 19 de junho de 2011

Lygia entre os dragões na visão de Miguel Jorge


A composição do romance Lygia entre os Dragões, de Itamar Pires Ribeiro aparentemente simples, segue, no entanto o desenvolvimento dos movimentos moderno/vanguardistas em suas idas e vindas atemporais. É sobre este e outros vínculos ou estigmas que se destacam os capítulos da narrativa, todos eles personalizados como se procedessem de um ensaio sobre personagens incomuns, prontos para se submeterem ao sentimento da paixão e a tudo mais que a rodeia. Tem-se a fascinação pelo perigo, com sonhos advindos da frágil insuficiência da razão. “O mundo é pobre para quem jamais foi doente o bastante para a paixão” já dizia Nietzsche. Aí, então, se vê envolvida, é claro, a linguagem construída com os mesmos traços de intensa ressonância moderna que campeia todo o livro. Narrativa ágil,intensa, por vezes misteriosa, mas quase sempre poética, cifrada em amores que revitalizam os jogos da sensualidade e do prazer corpo a corpo. O prazer e os mistérios que sustentam a relação de um homem e uma mulher.
No caso do romance de Itamar Pires Ribeiro de várias mulheres: Hanna, Marcela, Lygia que surgem para a aquisição da virtude da felicidade. Ou apenas uma delas: Lygia, a que dá título ao livro, figurada em meio a tantos e quantos dragões, misto de sonho e realidade que abastece e vivencia a tonalidade criativa do autor. Um dragão que, no sentido figurado, amedronta a cidade.
Estes são alguns traços que permeiam a escritura de Itamar, já distinguido em vários gêneros: conto, poemas, ensaios. Mais ampla, no entanto, e de maior fôlego é esta sua nova e mais complexa incursão pelos meandros da narrativa longa, que exige um olhar detalhado sobre a realidade e o que vem depois dela.
O romance é ambientado em Goiânia e vários pontos da cidade são mencionados ao longo dos vários capítulos “e,o tempo, que moldava sobre as casas e a cidade suas máscaras cambiantes...” Assim como velhas cartas, fotos, discos, histórias reconstruídas como uma alegoria de liberdade: os fragmentos de memórias assemelham-se a pedaços sem nexo de sonhos...
A força dos últimos capítulos, de intensa alquimia poética, repousa na boa qualidade do romance. Um mergulho muito íntimo entre as palavras e a musicalidade rítmica nos remete à inesgotável percepção da vida e da morte. Corte profundo de incrível encantamento que nos surpreende e coloca como testemunhas de um livro capaz de agradar e instigar um pouco mais a sensibilidade dos leitores.”Soube então que sobrevivera apenas com um propósito: a mim cabia contar aquela história à qual não compreendia direito. Sentei e comecei a escrever”.
Miguel Jorge


*este texto integra a orelha do romance "Lygia entre os Dragões"

Entrevista para o Jornal Opção

Na edição de hoje, 19 de junho, saiu uma entrevista que concedi ao escritor e historiador Ademir Luiz, o título é "O Senhor dos Dragões" e pode ser acessada no seguinte link
http://www.jornalopcao.com.br/posts/opcao-cultural/o-senhor-dos-dragoes

quinta-feira, 16 de junho de 2011

Comentário de Miguel Jorge sobre "Lygia entre os dragões"

"Um mergulho muito íntimo entre as palavras e a musicalidade
rítmica nos remete à inesgotável percepção da vida e da morte.
Corte profundo de incrível encantamento que nos surpreende
e nos coloca como testemunhas de um livro capaz
de agradar e instigar um pouco mais a sensibilidade dos leitores"

Trecho de abertura do romance "Lygia entre os dragões"


 
“Desde então ela enviava sinais, insinuava sua aproximação, o que, enfim, nos consumiria, mas eu era surdo e cego. Os três cadernos foram um prenúncio, que, como acontece com a maior parte dos prenúncios, só são entendidos depois, muito depois. A morte de Hanna ocupou todo o tempo e o espaço disponível, alongou por uma sensação de meses e anos o que foram dias e semanas, restou provada para mim a estranha afirmação da física de que o tempo depende de seu observador. Para mim ficou claro que o tempo depende da agonia.
De Hanna sobraram as fotos, um atestado de óbito em nome de Hanna Eleanor Rigby de Souza, que nasceu e assim foi registrada e batizada aos 25 dias do mês de abril do ano da graça de 1974, o dia da Revolução dos Cravos, “Grândola vila morena Terra da fraternidade O povo é quem mais ordena Dentro de ti ó cidade”. Filha de um pai doido pelos Beatles e por Chaplin, e uma mãe que um pouco se parecia com ela, em tudo uma versão menor e mais tranquila, durável, persistente, terrível, uma canária filha de uma coruja. O fogo gelado dos olhos castanhos de Hanna, nunca mais. “Dentro de ti ó cidade”, enquanto no Brasil se consumia o esgoto escuro da ditadura “que há de durar para além do ano 2000”, se lascando, se fodendo de verde-e-amarelo. Ela nascia, abria o duplo farol de fogo gelado, o fogo castanho dos olhos, que talvez ainda não queimasse como queimara, tanto, tanto. Nunca mais. Nunca mais a voz grave e, pela manhã, rouca, o riso, e a vontade de voltar para o balé: não. Sonhando com o brilho sobre os palcos, sonhando: não. E nenhuma outra daquelas filmagens bobocas, que consumiam fitas intermináveis de VHS, as quais nem ela tinha paciência para ver. As crises de choro. As agonias. O silêncio espreitando e armado com facas, garras, presas, armadilhas que estalavam em frases curtas e frias, que faziam o exato estrago necessário — não mais. Hanna Eleanor Rigby — ela e todos os solitários, os incuravelmente sós — nunca mais. Never more, dizia o corvo, never more. Pouca gente no enterro, recolhi duas pétalas de rosa, guardei-as no bolsinho da calça — o arroz de um casamento alheio. Adeus. Hanna Eleanor Rigby de Souza, 33 anos, matou-se de medo e silêncio. Um tiro, direto, na cabeça, e que, no entanto, se desviou, ricocheteando e foi se alojar numa posição inoperável, fundo, bem fundo no cérebro, apenas por um capricho sádico da natureza.
O fogo dos olhos castanhos, nunca mais.”

Capa de "Lygia entre os dragões

Esta é a capa do romance que será lançado no próximo dia 21, ás 20 horas, na sede da UBE (Rua 21, nº 262)

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Nascente: mais uma música da 'trilha sonora' de Lygia entre os dragões

Logo no início do romance a música "Nascente" serve como tema para um importante segmento da história. Confira essa bela criação de Murilo Antunes e Flávio Venturini
Nascente

sexta-feira, 10 de junho de 2011

A música em "Lygia entre os dragões"

Uma das âncoras do texto de "Lygia entre os dragões" é a música. Define climas, ritmos de narração e remete a personagens, provê imagens, em suma, tem um papel extremanente importante na urdidura do texto. Algumas músicas são explicitamente citadas e, inclusive, dão título a capítulos do romance. Uma dessas músicas fundamentais na "trilha sonora" é Silfo e Ondina" de Astor Piazzolla, confira uma versão desta música fabulosa.
http://www.youtube.com/watch?v=Hefd8AKJ62Q

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Ilustrações para Lygia entre os Dragões

Confira exemplos das foto-ilustrações do romance "Lygia entre os dragões".
Todas foram criadas a partir de fotos de meu acervo pessoal ou de pesquisas de imagens públicas.
Depois da seleção cada imagem recebeu um tratamento especial, com aplicação de efeitos, cortes, montagem
e modelagem para chegarem a se transformar em foto-ilustrações e compor um diálogo com o texto do romance.


Confira.