domingo, 9 de outubro de 2011

Tiburcio: um personagem felino


Tiburcio é um dos narradores de "Lygia entre os Dragões", sua voz reflete o olhar que se filtra pelos grandes olhos azuis, pelo instinto de caça, seu agudo senso de direção, sua presença próxima a Hanna, seu encontro com "Lygia"

domingo, 19 de junho de 2011

Lygia entre os dragões na visão de Miguel Jorge


A composição do romance Lygia entre os Dragões, de Itamar Pires Ribeiro aparentemente simples, segue, no entanto o desenvolvimento dos movimentos moderno/vanguardistas em suas idas e vindas atemporais. É sobre este e outros vínculos ou estigmas que se destacam os capítulos da narrativa, todos eles personalizados como se procedessem de um ensaio sobre personagens incomuns, prontos para se submeterem ao sentimento da paixão e a tudo mais que a rodeia. Tem-se a fascinação pelo perigo, com sonhos advindos da frágil insuficiência da razão. “O mundo é pobre para quem jamais foi doente o bastante para a paixão” já dizia Nietzsche. Aí, então, se vê envolvida, é claro, a linguagem construída com os mesmos traços de intensa ressonância moderna que campeia todo o livro. Narrativa ágil,intensa, por vezes misteriosa, mas quase sempre poética, cifrada em amores que revitalizam os jogos da sensualidade e do prazer corpo a corpo. O prazer e os mistérios que sustentam a relação de um homem e uma mulher.
No caso do romance de Itamar Pires Ribeiro de várias mulheres: Hanna, Marcela, Lygia que surgem para a aquisição da virtude da felicidade. Ou apenas uma delas: Lygia, a que dá título ao livro, figurada em meio a tantos e quantos dragões, misto de sonho e realidade que abastece e vivencia a tonalidade criativa do autor. Um dragão que, no sentido figurado, amedronta a cidade.
Estes são alguns traços que permeiam a escritura de Itamar, já distinguido em vários gêneros: conto, poemas, ensaios. Mais ampla, no entanto, e de maior fôlego é esta sua nova e mais complexa incursão pelos meandros da narrativa longa, que exige um olhar detalhado sobre a realidade e o que vem depois dela.
O romance é ambientado em Goiânia e vários pontos da cidade são mencionados ao longo dos vários capítulos “e,o tempo, que moldava sobre as casas e a cidade suas máscaras cambiantes...” Assim como velhas cartas, fotos, discos, histórias reconstruídas como uma alegoria de liberdade: os fragmentos de memórias assemelham-se a pedaços sem nexo de sonhos...
A força dos últimos capítulos, de intensa alquimia poética, repousa na boa qualidade do romance. Um mergulho muito íntimo entre as palavras e a musicalidade rítmica nos remete à inesgotável percepção da vida e da morte. Corte profundo de incrível encantamento que nos surpreende e coloca como testemunhas de um livro capaz de agradar e instigar um pouco mais a sensibilidade dos leitores.”Soube então que sobrevivera apenas com um propósito: a mim cabia contar aquela história à qual não compreendia direito. Sentei e comecei a escrever”.
Miguel Jorge


*este texto integra a orelha do romance "Lygia entre os Dragões"

Entrevista para o Jornal Opção

Na edição de hoje, 19 de junho, saiu uma entrevista que concedi ao escritor e historiador Ademir Luiz, o título é "O Senhor dos Dragões" e pode ser acessada no seguinte link
http://www.jornalopcao.com.br/posts/opcao-cultural/o-senhor-dos-dragoes

quinta-feira, 16 de junho de 2011

Comentário de Miguel Jorge sobre "Lygia entre os dragões"

"Um mergulho muito íntimo entre as palavras e a musicalidade
rítmica nos remete à inesgotável percepção da vida e da morte.
Corte profundo de incrível encantamento que nos surpreende
e nos coloca como testemunhas de um livro capaz
de agradar e instigar um pouco mais a sensibilidade dos leitores"

Trecho de abertura do romance "Lygia entre os dragões"


 
“Desde então ela enviava sinais, insinuava sua aproximação, o que, enfim, nos consumiria, mas eu era surdo e cego. Os três cadernos foram um prenúncio, que, como acontece com a maior parte dos prenúncios, só são entendidos depois, muito depois. A morte de Hanna ocupou todo o tempo e o espaço disponível, alongou por uma sensação de meses e anos o que foram dias e semanas, restou provada para mim a estranha afirmação da física de que o tempo depende de seu observador. Para mim ficou claro que o tempo depende da agonia.
De Hanna sobraram as fotos, um atestado de óbito em nome de Hanna Eleanor Rigby de Souza, que nasceu e assim foi registrada e batizada aos 25 dias do mês de abril do ano da graça de 1974, o dia da Revolução dos Cravos, “Grândola vila morena Terra da fraternidade O povo é quem mais ordena Dentro de ti ó cidade”. Filha de um pai doido pelos Beatles e por Chaplin, e uma mãe que um pouco se parecia com ela, em tudo uma versão menor e mais tranquila, durável, persistente, terrível, uma canária filha de uma coruja. O fogo gelado dos olhos castanhos de Hanna, nunca mais. “Dentro de ti ó cidade”, enquanto no Brasil se consumia o esgoto escuro da ditadura “que há de durar para além do ano 2000”, se lascando, se fodendo de verde-e-amarelo. Ela nascia, abria o duplo farol de fogo gelado, o fogo castanho dos olhos, que talvez ainda não queimasse como queimara, tanto, tanto. Nunca mais. Nunca mais a voz grave e, pela manhã, rouca, o riso, e a vontade de voltar para o balé: não. Sonhando com o brilho sobre os palcos, sonhando: não. E nenhuma outra daquelas filmagens bobocas, que consumiam fitas intermináveis de VHS, as quais nem ela tinha paciência para ver. As crises de choro. As agonias. O silêncio espreitando e armado com facas, garras, presas, armadilhas que estalavam em frases curtas e frias, que faziam o exato estrago necessário — não mais. Hanna Eleanor Rigby — ela e todos os solitários, os incuravelmente sós — nunca mais. Never more, dizia o corvo, never more. Pouca gente no enterro, recolhi duas pétalas de rosa, guardei-as no bolsinho da calça — o arroz de um casamento alheio. Adeus. Hanna Eleanor Rigby de Souza, 33 anos, matou-se de medo e silêncio. Um tiro, direto, na cabeça, e que, no entanto, se desviou, ricocheteando e foi se alojar numa posição inoperável, fundo, bem fundo no cérebro, apenas por um capricho sádico da natureza.
O fogo dos olhos castanhos, nunca mais.”

Capa de "Lygia entre os dragões

Esta é a capa do romance que será lançado no próximo dia 21, ás 20 horas, na sede da UBE (Rua 21, nº 262)

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Nascente: mais uma música da 'trilha sonora' de Lygia entre os dragões

Logo no início do romance a música "Nascente" serve como tema para um importante segmento da história. Confira essa bela criação de Murilo Antunes e Flávio Venturini
Nascente

sexta-feira, 10 de junho de 2011

A música em "Lygia entre os dragões"

Uma das âncoras do texto de "Lygia entre os dragões" é a música. Define climas, ritmos de narração e remete a personagens, provê imagens, em suma, tem um papel extremanente importante na urdidura do texto. Algumas músicas são explicitamente citadas e, inclusive, dão título a capítulos do romance. Uma dessas músicas fundamentais na "trilha sonora" é Silfo e Ondina" de Astor Piazzolla, confira uma versão desta música fabulosa.
http://www.youtube.com/watch?v=Hefd8AKJ62Q

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Ilustrações para Lygia entre os Dragões

Confira exemplos das foto-ilustrações do romance "Lygia entre os dragões".
Todas foram criadas a partir de fotos de meu acervo pessoal ou de pesquisas de imagens públicas.
Depois da seleção cada imagem recebeu um tratamento especial, com aplicação de efeitos, cortes, montagem
e modelagem para chegarem a se transformar em foto-ilustrações e compor um diálogo com o texto do romance.


Confira.

sábado, 28 de maio de 2011

Os Labirintos Desapercebidos, por Edival Lourenço


Os labirintos desapercebidos
Edival Lourenço*

Sonho não é realidade. Mas também não é ficção. Seria uma realidade nascida de uma ficção? Ou uma ficção nascida de uma realidade? Acho que não é uma coisa nem outra. Embora se alimente da ficção e da realidade, os sonhos construídos pela argamassa de nossos neurônios galopantes e de rédeas soltas, sonhos e apenas sonhos é que são.
Com a diluição de um possível conceito sobre sonho e realidade é que inicio esta breve impressão de leitura deste romance saboroso e intrigante Lygia entre os dragões de Itamar Pires Ribeiro.  Ocorre que o que nos assalta desde logo é a dúvida se a trama do livro foi tecida pelos fios de fatos reais ou de coisas inventadas. Porque os fatos que dão corpo à obra nos parecem até certo ponto familiares, mas ao mesmo tempo estranhos. Como objetos expostos na penumbra de uma vela de cera, atrás de um biombo de treliças ou mesmo de uma cortina de fino voil: a gente os reconhece no lusco-fusco, com alguma dúvida, portanto.
Assim é que é este lapidar romance. Quem vive em Goiânia há pelo menos três ou quatro décadas há de saber logo de cara que os cenários apresentados são genuinamente goianienses, que os fatos, que neles se animam, possivelmente também o são. Coisas reais e genuínas como os cenários e os fatos narrados pelo icônico Joyce na antológica coletânea de contos Dublinenses. 
No entanto, os fatos reais aqui expostos, se não estou enganado, são meros pretextos para a ficção. E, no contraponto desta ideia, a ficção aventada não passa de  pretexto para dar relevo, para fixar mais fortemente a realidade. A realidade esposada salta do romance a nossos olhos como um bicho reinventado: como um gato que, apesar de gato, tivesse dentes de pessonha; ou feito uma a serpente que exibisse hálito de fogo como os dragões. Dragões que, aliás, são uma metáfora fortíssima, a desafiar o leitor, como o lado sombrio do ser, de capa a capa do livro.
Itamar Pires Ribeiro é um escritor tinhoso, ladino e diligente que vem se superando a cada obra com que nos brinda. É um autor que estuda à exaustão as teorias do fazer literário, aprende os entalhes, os amarrilhos, as manhas, adquire e domina as ferramentas disponíveis. Mas, premido pela sede da própria criatividade, acaba, pelo menos em parte, por inventar outras ferramentas e outros traços de elementos, para a composição de seu trabalho. E penso até que teorias podem sem acrescidas ou mesmo inventadas a partir da engenhosidade de seu texto. O tempo, se não calar a voz diante da magia tosca do espetáculo hodierno, dirá.
Lygia entre os dragões é um romance bom de ler, porque à primeira vista nos parece algo simples. Pode ser lido e entendido conforme o nível cultural e a teia neural do leitor. Uma história dramática e empolgante num ambiente um pouco lúgubre, que às vezes lembra O morro dos ventos uivantes de Emily Brontë. As coisas e o dizer sobre as coisas formam um todo continum, num ir e vir, meio onda, meio círculo, no suceder das gerações. A ruptura, no entanto, é um mito e uma tola pretensão. A agregação por sedimento é a praxe. A título de exemplo, René Descartes proclamou penso, logo existo colando de Santo Agostinho, que já havia dito erro, logo existo que colou dos romanos errare humanum est, que colaram sei lá de quem.
Pelo olhar atento do autor nós vamos perceber que apesar de nossa arquitetura Art Déco e de nosso ambiente solar, nossos prédios e repartições guardam muito do espírito gótico e sombrio de tempos guardados na memória, do nevoeiro que envolve a Casa de Usher, antes da queda. Veja este arrematado exemplo, dentre tantos: E assim a noite do sábado transcorreu e fluiu para dentro do dia do domingo, transformando-se da tempestade inicial, enfática, cerzida nos fogos de prata dos relâmpagos, em chuva  muda, contínua, interminável, chuva que apagou o sol forte da manhã, fazendo com que  o dia nascesse  sem qualquer pompa de rubros e dourados, impondo que o amanhecer apenas  escoasse da noite, como uma espécie de humor vítreo, uma cinza de estrelas extintas, de relâmpagos apagados. Aliás, não é sem razão que as referências a Edgar Allan Poe nos espreitam durante toda a leitura. Afinal, os dragões nos assombram pela primeira vez( ou pelo menos apresentou seus maus augúrios) como simples ilustrações de numa folha de papel vergê em que Hanna transcreve o sinistro poema O Corvo de Allan Poe.
Pelo olhar atento e assombrado do autor, percebemos que nossos prédios góticos e repartições lúgubres estão inseridos em labirintos, que não fossem por sua acuidade mental, nos passariam desapercebidos. O que são, senão labirintos surreais, aquelas superquadras do Setor Sul?  Goiânia, sob o olhar de Itamar Pires Ribeiro ganha status de uma cidade mítica. O próprio texto é labiríntico, como as Ruínas Circulares de Jorge Luís Borges ou uma superquadra do Setor Sul.
E para construir o enredo da história digna da magia da cidade, o autor busca nela mesmo a sua inspiração. Pega os retalhos dos sonhos e das frustrações da geração Beat. Não a geração Beat de Woodstock, da Rota 66, nem das barricadas dos jovens libertários de Paris de 1968. Mas da geração Beat do Cerrado que sonhou com uma revolução social autóctone e para isso mobilizou sonhos e pegou em armas, sejam reais, sejam metafóricas. E sofreu a rebordosa acachapante de um sonho frustrado. Como castigo simbólico de toda uma geração, vai viver a sua história encolhido, acuado. Seja como um soturno burocrata restaurador de livros que ninguém vai ler, seja como suicida aparentemente sem causas, mas sem fugir um milímetro que seja da lucidez do próprio destino. Como fica explícito na dicção do próprio narrador: numa fidelidade louca de cão deitado no túmulo do dono.     
 Lygia entre os dragões é um romance pop, no sentido deleuziano, por recorrer a simbolismos eruditos, da cultura clássica, bem como a elementos da cultura de massa, da sociedade de consumo, como filmes, músicas e até histórias em quadrinho. Há referências explícitas e secretas. Exemplo: o número do telefone de Lygia, de cinco algarismos 2-6354 (formato dos antigos telefones de Goiânia), é o número de série de Blade Runer, personagem trágico do filme homônimo, de Ridley Scott. Trata-se, este romance, de um épico, meio anarquista, que traz para seu bojo o drama intenso da geração pós-pós (quase replicante de si mesma), com o ritmo e a sensibilidade da poesia. Um romance incompleto (no sentido de ser aberto), para quem estiver munido de informações e bastante atento, na medida em que vai descobrindo o espaço perfeito para ser preenchido com as lembranças, os sonhos, os dramas, a opulência e a precariedade que cada leitor carrega em seu farnel existencial. 

* Edival Lourenço é escritor, autor de
A centopeia de neon, O elefante do cego, dentre outros.

terça-feira, 24 de maio de 2011

Lygia entre os dragões - romance será lançado em junho

O romance "Lygia entre os dragões" será lançado no próximo dia 21 de junho, às 20 horas, na sede da UBE-GO (Rua 21, nº 262 - Centro).
A publicação conta com o apoio e patrocínio da Lei Municipal de Incentivo da Cultura da Secretaria Municipal de Cultura.
O romance, ambientado em Goiânia, tem 320 páginas, fromato 15x23 e conta com foto-ilustrações criadas a partir de fotos de Itamar Pires Ribeiro.
Confira abaixo a capa e uma das ilustrações do livro.